Projetando meu primeiro PC

PRIMEIRAMENTE

Por mais repetitivo que seja - e o quanto todo mundo esteja familiarizado com a atual situação da economia brasileira -  gostaria de reiterar a minha completa frustração e, provavelmente, a de muitos outros brasileiros ao se deparar com a disparidade enorme entre o valor necessário para se adquirir um computador simples como o abaixo mencionado. Esta build final atualmente se encontra na casa dos 500 USD, enquanto que, aqui no Brasil, esse computador não sairá por menos de 2.500 reais.

Um pouco de contexto

Quando a necessidade de trocar um notebook por um PC surgiu em minha vida, minha primeira referência - não que me orgulhe - foi a recente notícia de que uma equipe estava muito próxima de tornar o famigerado Legend of Zelda: Breath of the Wild jogável, e até melhor, quando emulado em um PC. Naquele momento, vasculhando entre as notícias para descobrir o que seria necessário para executar tal proeza, eu me deparei com este texto:


Zelda BotW.png


É importante notar que YamGaming trouxe à mesa um hardware bem sério para tornar isso possível. O sistema no qual o emulador está rodando inclui uma CPU Core i7 6700k rodando a 4.3 GHz, 16GB RAM, e uma GTX 1070….


Essa passou a ser minha meta de hardware uma vez que eu já estava deslumbrado com o recém lançado para Switch: Zelda BotW. Mal sabia eu o que aquela sopa de letras e números referentes ao hardware realmente significavam.

Desilusão

Ao por no papel, item por item mais outros componentes básicos como fonte, HDD, gabinete, e a placa mãe; me assustei com um valor de 6 mil reais. Pela forma como o texto parafraseou o termo ‘sério’ eu já me preocupei mas não esperava que o valor seria próximo à uma motocicleta nova.

Investigação

Visto que o computador dos meus sonhos estava um pouco muito demais além da curva, o jeito foi tentar se agarrar à realidade. Horas e horas de pesquisa e as primeiras descobertas me levaram a entender o quanto, apesar de meus desejos, todo aquele aparato tecnológico não me serviria de nada no fim da linha. Eis os motivos:
  1. GPU (Graphics Processing Unit), também conhecida como placa de vídeo - alma de todo gamer. A GTX 1070 mencionada no artigo acima faz parte do que se entende por high-end (para alguns mid-end ou algo entre) ou, em português, topo de linha. Esse tipo de hardware é dirigido à entusiastas ou, no caso de algumas parcelas da nossa população, para quem come goiabada com danoninho sem preocupações.  Esse tipo de GPU é capaz de proezas como 4K de resolução (mais sobre isso depois), Realidade virtual e (com uma CPU razoável) de fazer jogos como GTAV por o rabo entre as pernas.
  2. CPU (Central Processing Unit), também conhecido como  Processador. O i7 6700k também não é de brincadeira, sendo esse parte dos processadores voltados para quem precisa de muito poder de processamento: edição de vídeo, mineração de bitcoins, processamento de dados. Poderes desta grandeza algumas vezes passam simplesmente batido por alguns jogos por simplesmente não necessitarem de tanto processamento ou por não terem uma otimização que permita que o game utilize de todos esses cores disponibilizados pelo processador.
  3. RAM (Random Access Memory). De maneira simples e curta, os jogos atuais simplesmente não demandam tanta RAM e os 16GB mencionados acima acabam não sendo realmente essenciais para a vida real.

Negociação

Depois de tanta pesquisa, aos poucos fui descobrindo como equilibrar meu orçamento e minha necessidade. A GTX 1070 foi trocada por uma 1060 em vista de uma dica amplamente espalhada que pelo menos 40% do orçamento deveria ser destinado à aquisição de uma boa placa de vídeo. Ainda seria capaz de executar games atuais em HD (1920x1080p) porém sem os exageros que uma 1070 ofereceria em tecnologias caras  como o VR e 4K. O i7 foi trocado por um i5 7400 em prol do bom senso e os 16GBs de RAM foram reduzidos para o valor razoável de 6.

Descoberta

De 6 mil reais, meu sonho se reduziu à 4 mil. Tudo estava ótimo até eu me lembrar que notebooks vem com um monitor no pacote; computadores não. Foi nesse momento que descobri que monitores menores que 18 polegadas não suportam 1080p; também descobri que um monitor de 21’ full HD custa “míseros” 800 reais - ¼ do meu extravagante orçamento. Simplesmente incompatível com a minha existência atual.

Aceitação

O único monitor que caberia no meu orçamento deveria ter em seu preço no máximo 400 reais - entre 15,6 e 19 polegadas. Então começou o açougue de sonhos - cortando cada pedacinho de barriga que não entrasse no cinto.
Se eu não posso ter um monitor Full HD, não faz sentido ter uma GPU tão potente. A GTX 1050 ti se torna a protagonista da peça. Para cobrir os gastos do monitor, mais dinheiro teria que sair desse orçamento: o i5 foi a bola da vez dando lugar à um Pentium G4560 - que, inclusive, foi uma descoberta muito interessante pois o mesmo, apesar de só possuir 2 cores, possui hyperthreading (é complicado) fazendo-o que funcione quase como um quad-core - e que vem por muito menos que a metade do preço do i5.
Agora com uma GPU e uma CPU muito menos famintas por Watts, eu não precisaria de uma fonte de 500W para alimentar todo o sistema, possibilitando ao invés que eu pudesse utilizar de uma fonte de 250-300W.

Extras

Depois de algumas pesquisas, encontrei que realmente vale a pena investir em um pacote de quatro ventoinhas (fans) dispostas em uma configuração de 2 para intake frontal (puxando ar para dentro do sistema) e duas atuando como exaustores (expulsando o ar quente de dentro do sistema) posicionadas no fundo e no topo do gabinete.
Muito importante também investir em um gabinete com um compartimento lateral para realizar o cable management (organização dos cabos para que não prejudiquem a passagem de ar e tampouco embolem dentro do gabinete, tornando-o mais bonito e limpo).

O uso de HDD ou SSD (Solid State Drive) fica a critério porém o ganho em agilidade do sistema no uso de um SSD é unânime. Se você, assim como eu, não faz uso de muito espaço do seu HD e tem um bom relacionamento com serviços de nuvens, fica recomendadíssimo despachar o HDD em prol dessa nova e mais rápida tecnologia.

Conclusão

Apesar de toda a decepção com minha atual incapacidade de construir um PC capaz de emular um game espetacular como o Zelda: Breath of the Wild, o processo de pesquisa e escolha é algo enriquecedor. Ainda que em um mundo ideal onde as coisas são acessíveis para todos, foi a exploração e customização desse computador, peça a peça, é que  imbuíu de identidade um objeto material outrora irrelevante. Mesmo que esse computador exista apenas em um documento de texto, é fruto horas de pesquisa e curiosidade minha.

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